segunda-feira, 12 de setembro de 2011

AZULEJO



AZULEJO

Azulejo sem largura
Reflete só o que vejo
Pena e desejo
De cair da altura.

Vida sem morte
É frio sem arrepio
Apático diante do fio
Que une o fraco ao forte.

Azulejo amouco
Agora e sempre
O poeta que não mente
Às vezes, chora um pouco.

Cicuta de gosto bom
Alimente o canifraz
No epitáfio diz: "Aqui jaz
A canção sem letra e tom."

Carcoma sombrio e voraz
De dor e medo cimério
Tumor que não é um mistério
Com a carne se satisfaz.

Doença é o escarmento
Daquele que é só
Ruínas, flores e pó
O que sou é sentimento.

Faial de rochedo cinza
Com limo e jasmim
Madeira fria é o fim
Do alegre e do ranzinza.

Quimeras e melancolias
São cargas do viajante
Juntas por um instante
Dão forma à amorfia.

Hoje e sempre
Calado e frio no escuro
Preto é a cor do puro
E do azulejo ausente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário