ITINERÁRIO DE UM DEPRESSIVO
Quando choro,
Lágrimas emudecem o mundo
E, no dissabor da vida, imploro
Atroz e estulto amor profundo.
Agora que sinto o frio do inverno
Epicédios anunciam a morte
Brava e suja como um cão do inferno
Deste depressivo lutuoso e sem sorte.
Quando desço a torre caótica
Do lânguido e fraco abismo
Folha seca e abiótica
Anunciam vida e canibalismo.
Tudo está negro, como a penumbra
Sonho triste de você, lúrida peste
Que, longe como uma tundra
Tira a alegria que o veste.
A bruma desce no lago visceral
E me chama a um encontro incestuoso
A depressão caminha, no bom e no mau
Caindo no infinito lacrimoso.