sexta-feira, 16 de setembro de 2011

ITINERÁRIO DE UM DEPRESSIVO


ITINERÁRIO DE UM DEPRESSIVO

Quando choro,
Lágrimas emudecem o mundo
E, no dissabor da vida, imploro
Atroz e estulto amor profundo.

Agora que sinto o frio do inverno
Epicédios anunciam a morte
Brava e suja como um cão do inferno
Deste depressivo lutuoso e sem sorte.

Quando desço a torre caótica
Do lânguido e fraco abismo
Folha seca e abiótica
Anunciam vida e canibalismo.

Tudo está negro, como a penumbra
Sonho triste de você, lúrida peste
Que, longe como uma tundra
Tira a alegria que o veste.

A bruma desce no lago visceral
E me chama a um encontro incestuoso
A depressão caminha, no bom e no mau 
Caindo no infinito lacrimoso.

SÍNDROME DO APOCALIPSE


SÍNDROME DO APOCALIPSE


Noite adorável
Eu sinto o aroma da morte
Da putrefação, do medo, da loucura
Ouço o tagarelar dos insetos
Os percevejos estão tomando o mundo
Isso me deixa tão feliz...


Não tenho nome
Mas, isso pouco importa
A vida é uma eterna mentira
Uma taça iluminada de larvas
Guiando-nos entre a doença e a saúde
Entre a loucura e a sanidade.


Sob todos os aspectos
Eu era um cego lunático
Conheci o sorriso dos idiotas
Senti o medo dos covardes
Mas, agora eu conheço a verdade
Agora conheço o grande segredo.


Vida é uma palavra triste
Carente de significado
Todos nós somos idiotas demais
Para compreender
Todos nós somos loucos
E, jamais admitiremos isto.


Construímos labirintos de mentiras
Para proteger nossas vidas
Cantamos ao paraíso
E adoramos o que não conhecemos
O desejo é uma taça de veneno
Que engana, destroça e mata.


Caminho por entre cinzas
O Apocalipse está por toda parte
Não sei de onde vim, nem para onde vou
Os insetos estão soltos
Gritem, chorem, lamentem
A espera pelo fim acabou.





quarta-feira, 14 de setembro de 2011

ELEGIA DE UMA ESPERA


ELEGIA DE UMA ESPERA

Eu espero meu amigo... meu amigo
Como sempre esperei
Esperando entre as ruínas do tempo
Entre pó e sonhos.

Esperando nas trevas... minha alma
Focalizada em sua luz
Eu cumpri minha missão, meu amigo
E a cumpri sem amargura.

Sim, meu amigo... com grande prazer
Silencioso, imóvel
Eu guardo seu tesouro, meu amigo
E, pacientemente, eu espero.

E aguardei sua vinda
Meu amigo, eu aguardei seu sorriso
Mas, algumas vezes, fiquei cansado
Algumas vezes, enfraqueci...meu amigo.

E indaguei-me
Algum dia conhecerei a liberdade?
Algum dia merecerei seu agradecimento?
Algum dia terei minha vida de volta?

Mas, é minha mente que indaga... meu amigo
Meu coração tem infinita paciência
Meu coração pode esperar para sempre
E muito mais.

Minha espera vale toda a dor
Toda penitência, todo sofrimento
Por isso eu me sento e guardo seu tesouro
Por isso eu espero... meu amigo.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

SAUDADE


SAUDADE


Saudade, sob o aroma da noite o amor aflora
De um sorriso triste que não me cansa
Suspenso no ar, tenho esperança
E acredito no que sinto agora.


Me desculpe se, com palavras, expresso
Tudo que sinto neste coração que clama
Por seu nome, seu corpo, sua chama...
Agora está feito. Não há regresso.


Saudade, este é meu presente para ti
Soneto sobre um sorriso que jamais esqueci
Diga a todos que é seu e de ninguém mais


Goste você ou não, alegre ou triste
Ou na mais alta montanha que existe
Te esquecer, jamais!!!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

SONHOS DERRETIDOS


SONHOS DERRETIDOS


...E, os ventos ruidosos
Que sopravam de seus pensamentos
Traziam ferro e fogo derretidos
Em mármore frio
De sepulturas tristes
Que choravam a saudade
Das flores secas e apodrecidas.


...E, as agulhas voadoras
Que sangravam aço enferrujado
Costuravam as nuvens negras
Que se afastavam umas das outras
Sozinhos no céu, pardais mortos
Sujavam de sangue
Seus sonhos traçados em mapas espedaçados.


...E, escondido de nossos olhos
À beira do suicídio eterno
O presente passava ao futuro
A vida esquecida no passado
Suspensos no céu gelado
Os desejos despencavam em direção
À inquietude do sonho infinito.



AZULEJO



AZULEJO

Azulejo sem largura
Reflete só o que vejo
Pena e desejo
De cair da altura.

Vida sem morte
É frio sem arrepio
Apático diante do fio
Que une o fraco ao forte.

Azulejo amouco
Agora e sempre
O poeta que não mente
Às vezes, chora um pouco.

Cicuta de gosto bom
Alimente o canifraz
No epitáfio diz: "Aqui jaz
A canção sem letra e tom."

Carcoma sombrio e voraz
De dor e medo cimério
Tumor que não é um mistério
Com a carne se satisfaz.

Doença é o escarmento
Daquele que é só
Ruínas, flores e pó
O que sou é sentimento.

Faial de rochedo cinza
Com limo e jasmim
Madeira fria é o fim
Do alegre e do ranzinza.

Quimeras e melancolias
São cargas do viajante
Juntas por um instante
Dão forma à amorfia.

Hoje e sempre
Calado e frio no escuro
Preto é a cor do puro
E do azulejo ausente.

domingo, 11 de setembro de 2011

FRIO



FRIO.


Frio é a noite sem estrelas
Frio é o corpo esquálido do ancião
Frio é o prazer dos idiotas
Frio é a treva do coração
E a agrura dos ignotas.


Frio é o amor dos cegos
Frio é o mármore da sepultura
Frio é o corpo sem vida
Frio é o verme na altura
E a alma esquecida.


Frio é o sorriso do surdo
Frio é a nuvem sozinha que vai
Frio é a ferida que inflama
Frio é o coração quando trai
E quando não ama.


Frio é mão falsa que me toca
Frio é a terra do cemitério
Frio é o sentimento do insensível
Frio é o segredo do mistério
E o desejo impossível.


Frio é a rua escura em que caminho
Frio é o depressivo que chorou
Frio é o mundo do retardado
Frio é o sonho que acabou
E a sina do amaldiçoado.


Frio é o notívago sem destino
Frio é a doença sem cura
Frio é a razão da maldade
Frio é a busca sem procura
E o martírio da saudade.


Frio é o olhar que não me vê
Frio é o amor desperdiçado
Frio é a vida que não é vivida
Frio é a tristeza do passado
E a agonia arrependida.


Frio são estas palavras vesânicas
Frio é o desespero fobial
Frio é o pensamento do homicida
Frio é o golpe final
E o medo da vida.




Frio é tudo que vive
Frio é minha vida solitária
Frio somos nós que sofremos
Frio é o destino de um pária
E o mal que fazemos.


Frio é o mundo
Frio é a morte
Frio é o aleijado que não morreu
Frio é a fraqueza do forte
Frio é o desgraçado que me esqueceu
Frio é a vida
E sou eu.